Senti um arrepio na espinha quando a professora Delice cantou e as crianças começaram a pular. Neste dia do índio elas usam colares de continhas e cocar fabricados por suas pequenas mãos. Os cocares feitos com penas de galinhas, caídas nos quintais de suas mães.
Os alunos estão animados. Brincam, de índio caracterizados, na queimada da educação física curricular. E nesses momentos, Delice é mais que uma professora, é uma amiga que brinca. De fora do campo, e entrosada com a turma torce pelos dois times. Ela mesma, várias vezes, se pondo a pular.
Isso me apaixona, esse amor da professora que transcende ao rigor dos livros. Em minha opinião o ensino deve ser assim mesmo, como o despertar de uma paixão. O aprender está mais para brincadeira, assim é fácil fixar. As coisas mais gostosas da vida eu aprendi brincando. E brincava de tudo quanto há. Peteca, bandeirinha. Brincava até de contar. Era no pique - esconde, contava para o tempo passar, os colegas esconderem e eu ia procurar.
Ouço gritos na quadra, uma menina foi “queimada” e os cocares balançam nas cabecinhas agitadas. Os rostos estão afogueados e Delice, do outro lado tem instruções a passar. Eu de cá, sinto falta de algo que não existe mais. Tempo passado, mas tempo não volta atrás. E os gritos dos alunos empolgados a cada amigo queimado quase me fazem chorar.
A brincadeira acabou o dia do índio findou, mas as lembranças os acompanharão por onde eles passarem. Crianças seguem sorrindo. Arcos, flechas, cocar.