“ Filho, levanta daí. Levanta! Vamos pra casa. Vamos com a mamãe...”
Essas foram as palavras daquela mãe quando conseguiu parar ao lado do caixão de seu primogênito. Diante de uma platéia ao mesmo tempo curiosa e estarrecida. Diante de vizinhos, conhecidos, amigos, parentes... Diante do inevitável que chegou cedo demais.
Já passava das 23 horas. A noite estava quase fria. Havia chovido mais cedo. Quando ele chegou, o parquinho que brincava parou.O tempo também parou e o silêncio foi cortado pelo soluço de tantos. Os planos eram tantos. O menino tinha 18 anos e uma cavalgada no outro dia. E uma bota nova pra usar. Seus amigos de cavalgada também soluçavam.
Nessa noite, Mimoso não dormiu e acordou chorando. Suas lágrimas banhavam as ruas, os telhados das casas, em um lamento sem fim e dolorido. Impossivel não questionar aquela tragédia inexplicável. Impossivel não pensar naquela cerca eletrizada. Porque ninguém consertou aquele fio da bomba d'água? Porque ...? Porque...? Inúmeros porques. Nenhuma resposta. Porque Deus permitiu? Porque questionar a Deus? Ele é o dono de tudo e de todas as respostas. Digo isto com o coração triste, porém, sem mágoas.
Perder entes queridos causa algo semelhante a terremotos na vida da gente. Depois que os terremotos vão-se, é necessário reerguer as paredes. Limpar os entulhos. Re-organizar a vida. Mas depois dessa faxina, a vida pode até ser melhor que era antes. Com a morte não é assim. Não há nenhuma faxina a ser feita. E não haverá “ depois”. Haverá sempre a ausência, a falta, a saudade somadas as palavras que nunca foram ditas e não mais serão respondidas. Como um pedido de perdão. Ou uma declaração de amor. Haverá uma cruel sensação de continuação porque somos obrigados a continuar.
Naquele sábado em que a cidade acordou de luto, amigos declararam um “um amor sem noção” a um companheiro que nunca mais montará seu cavalo querido. O irmão não segurou o choro por seu cúmplice na história. E a mãe ... a mãe questionou a crueldade de um Deus poderoso. “ Senhor, te pedi tantas vezes que não permitisse que nada acontecesse com meus filhos... Ah Senhor, porque tu não atravessaste meu menino em seus braços naquele arame maldito...? Porque o Senhor não me levou no lugar dele? Meu menino era tão alegre. Amava viver...”
Que se responderá aos questionamentos dessa mãe? Essa mãe que tinha em seu garoto um homem nos trabalhos da fazenda. Um garoto que antes de se entregar as peripécias de sua juventude, assumia as responsabilidades de dono da casa como o homem que vinha sendo preparado para ser. Um companheiro de todas as horas. Um filho bom. Um irmão exemplar. Um amigo fiel.
Disseram alguns: “Ainda aque fosse alguém que estivesse muito doente. seria mais fácil de tolerar.” E outros: “ coisas assim não acontecem com filhos ingratos...” Todos procuramos algo em que nos amparar que nos explique esse acontecimento. Nossas lágrimas nebulam nossos olhos. Nossa dor macula nosso semblante. Não há nada que possa ser feito pra reverter o que já foi. Não há nada que possa ser dito. Nada... Nada....
Por enquanto, só o vazio. Para a família, para todos os filhos de Mimoso...
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
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