Ouvi-a falar sobre sua infância. Ela, com mais de 50 anos, onze filhos e dezessete netos, estava na cozinha escorada na janela nem sabia do brilho que seus olhos refletiam em mim, que estava na varanda. Lembrou-se de como era, nos terreiros da fazenda Varginha, brincar e trabalhar. Tudo era feito entre primos e irmãos.
Seus brinquedos consistiam em fazer panelas-de-barro e cozinhadinho. À tardinha moíam cana e a noite socava, em um pilão de madeira, o arroz para comer no outro dia. Vivera entre os irmãos e como não tinham vizinhos por perto, eram amigos entre si e tornavam-se compadres ali mesmo no fundo dos seus quintais. E ao chegar os finais de semana, sem rádio ou televisão, a diversão estava combinada, iam p
escar nos rios locais. E à noite, sem os televisivos jornais, brincavam de roda sob o céu enluarado.
Ficamos as duas ali, ela voltando ao passado, eu a expiar suas lembranças enquanto observava suas reações. Ela provavelmente não sabia que por seus olhos eu via aquilo que por ela era lembrado. Aquele era um vago momento de lembranças e eu sabia que ela não sentia pesar pelo tempo passado. Sentia, sim, um carinho pelas pessoas que participaram dele. Tenho certeza de que se orgulha de sua vida agora e é aí que, na minha humilde opinião, está a beleza das fases da vida. Algumas pessoas se detêm a lamentar o que passou e terminam por não apreciar o momento atual.
As sensações daquela vida, das experiências com os irmãos, são suficientes para as forças serem renovadas. Agora, com os filhos crescidos, seu companheiro de roça é o marido e lá cultivam hortas, apartam algumas vacas e seguem com suas responsabilidades, seus interesses, sua vida presente. Não socam mais o arroz no pilão, agora moem o café torrado em seu fogão a lenha e fazem farinha com a mandioca produzida em seus poucos hectares de terra. O cheiro do café coado é um elo entre aquele tempo que se foi e esse que agora é chegado.
Ela na janela silencia, divaga em sua existência. Eu encanto-me com a beleza produzida pela simplicidade daquele lenço em seus cabelos. Dona Dominga não percebeu e, talvez, eu jamais lhe diga o modo como suas considerações afetaram a minha vida.
Seus brinquedos consistiam em fazer panelas-de-barro e cozinhadinho. À tardinha moíam cana e a noite socava, em um pilão de madeira, o arroz para comer no outro dia. Vivera entre os irmãos e como não tinham vizinhos por perto, eram amigos entre si e tornavam-se compadres ali mesmo no fundo dos seus quintais. E ao chegar os finais de semana, sem rádio ou televisão, a diversão estava combinada, iam p
escar nos rios locais. E à noite, sem os televisivos jornais, brincavam de roda sob o céu enluarado.Ficamos as duas ali, ela voltando ao passado, eu a expiar suas lembranças enquanto observava suas reações. Ela provavelmente não sabia que por seus olhos eu via aquilo que por ela era lembrado. Aquele era um vago momento de lembranças e eu sabia que ela não sentia pesar pelo tempo passado. Sentia, sim, um carinho pelas pessoas que participaram dele. Tenho certeza de que se orgulha de sua vida agora e é aí que, na minha humilde opinião, está a beleza das fases da vida. Algumas pessoas se detêm a lamentar o que passou e terminam por não apreciar o momento atual.
As sensações daquela vida, das experiências com os irmãos, são suficientes para as forças serem renovadas. Agora, com os filhos crescidos, seu companheiro de roça é o marido e lá cultivam hortas, apartam algumas vacas e seguem com suas responsabilidades, seus interesses, sua vida presente. Não socam mais o arroz no pilão, agora moem o café torrado em seu fogão a lenha e fazem farinha com a mandioca produzida em seus poucos hectares de terra. O cheiro do café coado é um elo entre aquele tempo que se foi e esse que agora é chegado.
Ela na janela silencia, divaga em sua existência. Eu encanto-me com a beleza produzida pela simplicidade daquele lenço em seus cabelos. Dona Dominga não percebeu e, talvez, eu jamais lhe diga o modo como suas considerações afetaram a minha vida.
